top of page
mulheres_da_luz_06720180419.jpg

 

Quem somos

A Associação Agentes da Cidadania - Coletivo Mulheres da Luz é um coletivo que busca promover a cidadania e a garantia de direitos humanos das mulheres em situação de prostituição do Parque da Luz e entornos. Desde 2013, promove atividades relacionadas às áreas de educação e cultura, além da promoção de saúde e bem-estar social.

 

As mulheres acompanhadas pelo coletivo, em sua maioria, têm idade acima de 40 anos, moram em bairros distantes, possuem baixa escolaridade e dificuldade de acesso às políticas públicas.

 

O nosso objetivo é escutar os desafios enfrentados pelas mulheres em situação de prostituição na região central de São Paulo e junto a elas propor e trabalhar em ações de melhoria destas realidades.

 

Contamos com um espaço provisório onde conseguimos reunir e fazer as rodas de conversas e oficinas de formação. Realizamos o trabalho por meio de voluntárias e voluntários como psicólogos, médicos de clínica geral, neurologistas, duas assistentes sociais, quatro pedagogas, um grupo de enfermeiras e uma advogada.

 

Também contamos com parcerias universidades como a Uninove, centros de saúde como as UBS da Sé e do Bom Retiro, postos de saúde do Bom Retiro, além do Serviço de Assistência Especializada (SAE) de Campos Elíseos.

orma-regina.jpg

 

Números

Dados de 2018 mostram quem acolhemos no nosso espaço uma média de 25 mulheres por dia. Foram encaminhadas 10 mulheres para consultas de odontologia e 48 mulheres para consultas de ginecologia. Cerca de 48 mulheres foram encaminhadas para Profilaxia Pré-Exposição (Prep) e 18 para Profilaxia Pós-Exposição (Pep).

 

Conseguimos ainda 13 marcações para Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) e distribuímos mensalmente 700 preservativos masculinos, 300 femininos e 700 embalagens de gel lubrificante e variado material educativo.

 

Temos cinco mulheres trabalhando como voluntárias no projeto “Tudo de Bom”. A iniciativa é um projeto municipal de prevenção ao HIV, ligado ao SAE dos Campos Elísios.

 

Quatro mulheres arranjaram trabalho como cuidadoras e uma como cabeleireira. Temos um grupo de mulheres que cuidam, alimentam e encaminham para consultas de veterinário (para castração, vacinação e cuidados médicos) a colônia de gatos do Parque da Luz.

 

Desde março, distribuímos 20 cestas básicas por mês resultantes de doações e  atendendo mulheres com necessidades básicas mais urgentes.

35839082_1000951810053950_30667664994368
mulheres-da-luz-projeto7-910x606.jpg

 

Nossas atividades

Acolhimento

- O acolhimento é a primeira etapa do atendimento das mulheres. Acontece todos os dias, com exceção das segundas-feiras e os domingos. É uma forma do Coletivo ter portas abertas para um primeiro contato, onde por meio de escuta e conversa, consegue-se criar um momento de confiança e vínculo com elas. Além da escuta, o acolhimento também é uma hora para reconhecer o protagonismo delas, buscar a resolução de problemas e realizar uma troca de saberes. É também no acolhimento que é feito um cadastro das mulheres, que atualmente conta com 200 nomes.

 

 

Atendimento de Saúde

A saúde das mulheres sempre esteve na pauta do Coletivo. Ao longo de seis anos foram realizadas palestras, oficinas e cursos que abordam o assunto.

Em 2018, iniciou uma parceria com a Uninove, que disponibiliza para o Coletivo alunos e professores voluntários. Foi criado um calendário conjunto e todos os meses são realizadas ações sobre saúde bucal, saúde da mulher, fisioterapia e nutrição. Por meio da parceria, também é feita uma triagem e encaminhamento para oftalmologista. A Uninove também disponibiliza um médico da família e serviços de psiquiatria.

 

Psicoterapia

- A partir de 2018, o Coletivo Mulheres da Luz passou a contar com psicólogos voluntários. O atendimento é semanal, realizado nas quintas e sextas-feiras. Este processo de psicoterapia com as mulheres é também um espaço de escuta para os problemas e questões delas. Cada sessão dura em torno de 40 minutos e este é um dos serviços mais utilizados por mulheres que buscam este tipo de auxílio.

 

Cursos e Oficinas

- O coletivo realiza diversas ações para promover o bem-estar e prover outras formas de renda para as mulheres da região da Luz e do entorno. Uma das formas de atingir este objetivo é a promoção de cursos e oficinas sobre temas variados. Esse serviço é feito em parceria com outras instituições como a Casa do Povo, Casa Amarela ou Museu do Imigrante.

- Corte e Costura

- Um curso popular é de o Corte e Costura. Nele, o Coletivo reúne um grupo de cerca de 15 mulheres e encaminha para a instituição parceira. As nossa mulheres já tiveram aulas de crochê, costura, artesanato, jeans, bordado ou pintura em tecido. Por meio dessa capacitação, elas conseguem complementar a renda ou buscar outro ofício. Elas estão aptas para realizar o conserto de roupas, fazer uma barra de calça ou trocar um zíper, fabricar um colar de miçangas, panos de prato em crochê e até mesmo reciclar um jeans velho, que vira um avental de cozinha. Estes produtos são vendidos em feiras e bazares realizados pela ONG.

 

Alfabetização

- O coletivo realiza ação de alfabetização, letramento e aulas de português para as mulheres. O curso é oferecido na sede do Coletivo no Parque da Luz. As aulas são particulares ou em grupo. A iniciativa é uma forma de modificar a vida das mulheres por meio de uma educação inclusiva e popular. As professoras voluntárias seguem uma metodologia do Educação de Jovens e Adultos (EJA), proporcionando acesso à educação para quem não teve oportunidades na escola convencional. A ideia é pensar em novas formas de aprendizado para a mulheres da região do Parque da Luz e do entorno.

 

Rodas de conversa

- Uma das primeiras atividades oferecidas pelo coletivo foram as rodas de conversas, que atualmente são realizadas na sede do Parque da Luz. Essas atividades têm objetivo de trocar ideias, fortalecer os vínculos e acolher as mulheres. Já foram realizadas mais de uma centenas de bate-papos sobre temas variados, como sexualidade, políticas públicas, regulamentação da prostituição ou acesso a direitos e conquistas sociais. As rodas de conversa são um espaço para criar uma unidade entre as mulheres, onde elas interagem e sentem que podem contar umas com as outras.

 

Acesso às políticas públicas

- Outra ação que é feita com as mulheres é promover o acesso delas às políticas públicas. Já foram firmadas parcerias com a rede de saúde pública, bem como o encaminhamento para a Previdência social, em especial o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e o Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS). Este último garante um salário mínimo para idosas. Ao longo de seis anos, o Coletivo conseguiu ainda abrir um canal de diálogo com a Prefeitura, com a cessão do espaço para a sede do Coletivo, além de projetos e discussões conjuntas.

Assessoria Jurídica

- De 2013 a 2017 houve um trabalho de assistência jurídica oferecido por uma advogada voluntária e esta atividade recomeçou em 2019 com um atendimento semanal feito por outra advogada voluntária. A ideia é criar um canal para orientar sobre demandas jurídicas da mulheres que integram o coletivo. Entre os principais temas das consultas são como conseguir benefícios junto ao INSS e a Previdência Social, a busca por direitos trabalhistas e o apoio nas questões relativas à violência contra a mulher.

Trabalho de campo

- Além das atividades realizadas na sede do Coletivo no Parque da Luz, o coletivo também promove um trabalho de campo, em alguns casos, até no período noturno. Nestas ações, voluntárias e voluntários abordam mulheres em situação de prostituição nas regiões da Liberdade, Sé e no Parque Dom Pedro, com parceria do SAE Campos Elíseos.

- Na conversa, é explicada um pouco da história do Coletivo e qual é a missão dela. Abre-se ainda um canal de escuta para as demandas das mulheres e fala-se detalhadamente sobre temas como educação sexual, prevenção contra DST, além da distribuição de preservativos.

- A ação tem o apoio do o Serviço de Assistência Especializada (SAE) de Campos Elíseos e do Projeto ‘Tudo de Bom’, um programa de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis da Prefeitura de São Paulo.

Atividades externas

- Uma das ações mais importantes do Coletivo Mulheres da Luz é levar a pauta da prostituição para o público geral. Por isso, são realizadas palestras, rodas de conversas, encontros, lançamentos de livros, entre outras atividades. A ideia é levantar uma bandeira e colocar o tema na agenda da cidade e das formadoras de opinião. Outro objetivo é quebrar o estigma e o estereótipo que está associado às mulheres em situação de prostituição, diminuindo preconceitos e reforçando questões específicas das mulheres. Além de dar visibilidade à causa, estes eventos também são um espaço para discutir o acesso de direitos como aposentadoria, moradia e saúde pública.

15337524_701821326633668_472343240350660

 

Nossas fundadoras

Cleone Santos, 60 anos, que por 18 anos trabalhou como prostituta no parque da Luz, mas deixou o serviço para fundar o grupo que hoje auxilia as mulheres. Ela conta que seus filhos só souberam da vida secreta da mãe depois que ela a abandonou. Foi sindicalista nos tempos de fábrica. Mas ficou solteira, com três filhos para criar. Trabalhava no bairro Bom Retiro, na limpeza de duas lojas. E gostava muito de ler jornal. Uma vez, sentada e lendo no parque, veio um homem e perguntou se fazia programa. Esse homem insistia toda vez que ela voltava para o local. Um dia aceitou. Fez uma, duas, cinco vezes. Viu que ganhava cinco vezes mais do que no seu trabalho. Foi a transição de militante sindical para uma mulher em situação de prostituição.

 

Cleone administra a organização, que atende cerca de 140 mulheres, em parceria com a freira Regina Célia Coradin, de 74 anos. A missionária faz parte da ordem passionista São Paulo da Cruz, que trabalha com auxílio a mulheres em situação de vulnerabilidade. Ela atua com mulheres em situação de prostituição desde os anos 1980.

 

"São mulheres pobres, sem alternativas. Vejo que elas são divididas entre dois corpos. A parte de cima não quer saber o que acontece com a parte de baixo. Elas se sentem muito culpadas por prejudicar a família, culpadas pelos filhos, pelo marido. Uma culpa que eu chamaria de católica, até moralista. Algumas são religiosas e enlouquecem com essa culpa. É como se elas pegassem o que têm de melhor e guardassem numa caixinha, enquanto vivem nesse mundo", diz a freira.

 

Em 2013, juntas elas fundaram o Coletivo Mulheres da Luz, cujo trabalho visa o acolhimento e acesso a políticas públicas de assistência social, educação, saúde (física e mental) e cultura, passando pela formação técnica e humana. O objetivo é inseri-las no mercado de trabalho formal e promover geração de renda. Em sua grande maioria, as mulheres atendidas são negras e pardas, com mais de 40 anos, moradoras de regiões periféricas da cidade. Muitas são analfabetas e vivem com até 1,5 salário mínimo. Há caso de mulheres de 80 anos em situação de prostituição. Ao todo, o Coletivo atende cerca de 200 mulheres. 

 

Trecho extraído da reportagem da BBC "A vida secreta das prostitutas veteranas que trabalham em parque histórico de São Paulo".

bottom of page